A conta da carne no Brasil entrou em zona de risco: climático, financeiro e social. Por exemplo, o Banco Central do Brasil identifica que a pecuária bovina é o setor mais exposto à transição climática com implicações para crédito, inadimplência e estabilidade do sistema financeiro (Banco Central do Brasil, 2022). Em 2024, 44% das instituições financeiras brasileiras relataram ter sido impactadas por eventos climáticos extremos, um salto expressivo frente aos 17% registrados em 2023, segundo levantamento do Banco Central (Banco Central do Brasil, 2025). Em paralelo, a ciência é categórica: desmatamento reduz chuvas e eleva temperaturas na Amazônia, intensificando secas e pressionando a produtividade. A ocorrência de crimes ambientais também tem sido associada a altas taxas de homicídios. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas mostrou que medidas contra o desmatamento reduziram homicídios: 1.477 homicídios evitados por ano na Amazônia, uma redução de 15%, em uma região onde a violência letal é muito acima da média nacional (Araujo et al., 2025).
Esses dados recentes aumentam a pressão para o controle do desmatamento associado à pecuária, que responde por cerca de 90% do total na Amazônia e atinge aproximadamente 90% de ilegalidade (MapBiomas, 2024; Prizibisczki, 2024).
Diante desse quadro, os resultados deste relatório (Radar Verde 2025) são um alerta objetivo: a maioria dos frigoríficos e das grandes redes de varejo ainda opera com controle muito baixo sobre fornecedores de gado e carne, o que enfraquece o controle do desmatamento. Transparência e auditoria avançaram, mas não na velocidade exigida pelo risco.
Foram avaliados 151 grupos frigoríficos na Amazônia Legal; 88% apresentaram grau muito baixo de compromisso contra o desmatamento, 12% baixo e nenhuma empresa comprovou controle satisfatório sobre fornecedores indiretos por meio de auditorias independentes. Em contraste, 12 empresas, lideradas por Marfrig, Masterboi e JBS, compõem o grupo de melhor desempenho, representando 41% da capacidade de abate em 2024. Além disso, embora a transparência tenha avançado, com o número de frigoríficos que publicaram auditorias independentes saltando de 13 (2024) para 41 (2025) — cobrindo 57% da capacidade de abate na Amazônia Legal, ante 37% no ano anterior — o setor ainda precisa acelerar a rastreabilidade até os fornecedores indiretos. Fornecedor indireto é a fazenda onde o bezerro nasceu e/ou foi recriado antes da engorda final de onde os frigoríficos compram o boi gordo. Sem monitorar esse elo, o risco de comprar gado ligado a desmatamento continua alto.
No varejo, a fotografia é semelhante: 97% das 100 maiores redes permanecem com controle muito baixo da cadeia da carne; nenhuma atingiu níveis intermediário ou alto; e apenas três (Assaí, Carrefour e GPA) demonstram resultados de auditorias nas fazendas diretas. Também houve progresso na autorregulação SARB 026/2023: 23 empresas divulgaram, em 2025, indicadores exigidos (contra 18 em 2024), mas a adesão ainda é parcial. A SARB 026/2023 é o normativo de autorregulação da FEBRABAN que define como bancos signatários devem gerir o risco de desmatamento ilegal na cadeia da carne bovina quando concedem crédito a matadouros e frigoríficos.
Para empresas e investidores, a mensagem é direta: a prova supera a promessa. Políticas genéricas não bastam. O que protege o valor é a rastreabilidade de origem do gado, inclusive dos fornecedores, auditorias independentes divulgadas, bloqueio de fazendas e frigoríficos não conformes e divulgação pública de resultados. A adoção de práticas sustentáveis e rastreamento na cadeia de suprimento de alimentos tenderá a aumentar vendas e lucros (Deloitte & NYU/Stern, 2024; Xie et al., 2022). O objetivo é tirar o setor do “vermelho” e colocá-lo em rota de conformidade climática — condição para sustentar produção, investimento, empregos e reduzir a violência na Amazônia.
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