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Estudo mostra que não é necessário derrubar mais nenhuma árvore para produzir carne

É possível aumentar produtividade da pecuária na Amazônia, sem desmatar e gastando menos

Angélica Queiroz

Nos próximos dez anos, a demanda e a produção brasileira de carne bovina devem crescer. A notícia importa para a Amazônia Legal, onde estão 3 a cada 10 cabeças de gado no Brasil. A região pode produzir mais sem desmatar, empregando técnicas e recursos financeiros já disponíveis, desde que haja coordenação política eficiente. É o que revela estudo do projeto Amazônia 2030, uma iniciativa conduzida por pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano de ações para a Amazônia.

O trabalho “Políticas para desenvolver a pecuária na Amazônia sem desmatamento” diz que a solução, que envolve combater a grilagem de terras, recuperar pastagens degradadas e torná-las mais produtivas, tem um custo total menor para os pecuaristas da região do que derrubar floresta para abrir pastos novos: R$270 milhões por ano, contra R$950 milhões do cenário em que há desmatamento. 

O trabalho, conduzido pelo engenheiro florestal e pesquisador associado do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Paulo Barreto, faz uma revisão da literatura científica para identificar mudanças em políticas públicas que possam frear o desmatamento e garantir que a pecuária na região se torne mais eficiente.  “Cerca de 90% da área desmatada na Amazônia é ocupada por pastagens”, diz ele. “Para desenvolver a região sem desmatar, é urgente repensar a atividade”. 

Segundo projeções do Ministério da Agricultura e Pecuária, a demanda brasileira por carne bovina deve crescer entre 1,4% e 2,4% ao longo da próxima década. O estudo mostra que, para atender a essa demanda sem desmatar, os pecuaristas da Amazônia teriam de reformar entre 170 mil e 290 mil hectares de pasto degradado por ano até 2030, ao custo de R$3 mil por hectare. No total, seriam necessários investimentos entre  R$ 270 milhões e R$ 873 milhões por ano. Já a produtividade das pastagens deveria passar dos atuais 80 kg por hectare para 300 kg por hectare.

Já existe dinheiro para isso: para produzir sem desmatar, os produtores da Amazônia Legal precisariam de um valor que pode variar entre 3% e 9,5% do crédito rural contratado para a região em 2020.  São empréstimos feitos pelos produtores rurais e que, hoje, são principalmente empregados na compra de novos animais — mas que podem ser redirecionados para a recuperação de pastagens degradadas.

Em contrapartida, a opção pelo desmatamento derrubaria entre 634 mil e 1 milhão de hectares de floresta por ano. No custo por hectare, é um caminho mais barato do que o de recuperar pastagens: R$ 1,5 mil por hectare, valor necessário para desmatar e plantar pasto. Mas, nesse cenário, a área afetada é maior.  Além do custo ambiental associado à derrubada da floresta, a medida tem um custo global maior: somados todos os investimentos que seriam feitos pelos pecuaristas, o desmatamento custaria entre R$ 950 milhões e R$ 1,63 bilhão por ano.

Por que continuamos derrubando árvores?
O estudo também mostra que, embora seja viável técnica e financeiramente produzir sem desmatar, não há garantia de que essa alternativa será dominante. Isso porque a pecuária pode continuar seguindo a tendência atual, que é a de ser pouco produtiva. Em média, há 10 bois onde poderia haver 33. E é grande a extensão de pastagem com algum grau de degradação. 

O quadro é resultado de um conjunto de “incentivos perversos” que desestimulam avanços técnicos: há muita terra barata disponível, mão-de-obra pouco qualificada e infraestrutura precária. Um cenário que dificulta o investimento nas áreas de pastagem já degradadas e que torna o desmatamento uma alternativa mais atraente para o produtor. 

O que precisa mudar?
Para mudar o cenário, o poder público deve induzir o uso mais produtivo das terras, desestimulando a expansão de fronteiras agrícolas especulativas e ineficientes, e deve trabalhar para fornecer os serviços e a infraestrutura que vão facilitar os investimentos nas áreas já desmatadas. Barreto recomenda atuar, simultaneamente, em duas frentes:

  • Combater ao desmatamento e a especulação fundiária 

Hoje, parte do desmatamento é utilizado por grileiros como tática para se apossar de terras públicas. O grileiro lucra ao vender a terra ou usando-a sem pagar um aluguel. Além disso, o poder público tem anistiado os grileiros e proposto a venda da terra abaixo do preço de mercado. Assim, o lucro da grilagem é enorme. A facilidade para se apossar de terras públicas torna barata a atividade de ampliar a produção de gado por meio da abertura de novos pastos.

  • Facilitar o uso mais produtivo da terra 

É preciso promover treinamento e assistência técnica continuados, oferecendo crédito rural focado em ganhos de produtividade e instalando infraestrutura e serviços necessários em regiões. 

Quer visualizar como a pecuária na Amazônia pode produzir mais sem desmatar? Clique aqui.

Créditos: Paulo Barreto| Amazônia2030

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