Novo levantamento do Radar Verde revela que as plantas frigoríficas autorizadas a exportar para China e Hong Kong não atendem as especificações da Associação Chinesa da Carne contra o desmatamento
Um estudo inédito feito pelo Radar Verde identificou que frigoríficos autorizados a exportar para China e Hong Kong descumprem especificações chinesas contra o desmatamento da Amazônia. Em 2021, a Associação Chinesa da Carne (CMA) publicou regras para evitar a importação de carne associada ao desmatamento. Embora ainda não tenha uma data específica para começar a valer, a norma demonstra que as preocupações ambientais aumentaram e é necessário que a indústria tenha controle total da cadeia de fornecimento. A CMA é composta por empresas da cadeia da carne, órgãos governamentais e acadêmicos chineses. Hong Kong foi incluída na avaliação, pois a carne exportada para o território pode ser re-exportada para a China continental.
Confira o estudo completo aqui.
Segundo o levantamento, das 176 plantas frigoríficas operando na Amazônia, 72 possuem licença para exportar para a China (31) e Hong Kong (71). Vinte e cinco, das 31 empresas licenciadas a exportar carne bovina para a China, operam em regiões com mais de 300 mil hectares expostos a riscos de desmatamento. Apesar dessa exposição significativa, nenhuma dessas empresas respondeu ao questionário Radar Verde, que avalia o controle sobre suas cadeias produtivas de carne bovina. Consequentemente, não atendem aos padrões da Associação de Carne da China para divulgação de informações e fornecimento responsável de áreas de alto risco de desmatamento.
Os dados do estudo indicam que a indústria brasileira de carne bovina pode enfrentar desafios no mercado asiático, especialmente China e Hong Kong, onde a demanda é alta, mas as exigências ambientais estão se tornando mais rígidas. Segundo a Associação Brasileira dos Exportadores de Carne Bovina (ABIEC), entre 2009 e 2022, as exportações de carne bovina para a China aumentaram 476%. “Essa falta de conformidade levanta preocupações sobre a transparência e a sustentabilidade das exportações de carne bovina para a China, destacando a necessidade urgente de melhores práticas da indústria para zerar o desmatamento”, afirma Paulo Barreto, coordenador da análise.
Monitoramento de fornecedores diretos e indiretos
Segundo a análise, das 31 plantas habilitadas para a China, apenas 20 demonstram controle dos fornecedores diretos e nenhuma dos indiretos. O cenário é semelhante para as plantas autorizadas a exportar para Hong Kong, onde apenas 38 das 71 demonstram controle dos fornecedores diretos e nenhuma tem controle dos fornecedores indiretos. A avaliação foi baseada nos resultados da Pesquisa Radar Verde 2023, que indicou o compromisso das empresas frigoríficas em combater o desmatamento na Amazônia a partir do monitoramento completo da cadeia de fornecimento. A lista está disponível nas tabelas a seguir.
Estratégias para compra de carne sustentável
Ao final, o estudo oferece diretrizes para a aquisição de carne, visando reduzir os riscos associados à proveniência de áreas desmatadas. Como um dos principais importadores de carne bovina do Brasil, a China poderia adotar as seguintes recomendações:
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- Comprar exclusivamente de empresas com políticas de desmatamento zero abrangendo toda a cadeia de suprimento, incluindo fornecedores diretos e indiretos, conforme as especificações da Associação Chinesa de Carne (CMA).
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- Priorizar fornecedores que obtêm gado de regiões com baixo risco de desmatamento.
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- Defender a divulgação, pelo governo, dos dados de transporte de gado (GTA). A combinação desses dados com mapas de desmatamento e fazendas ajudaria as empresas de carne bovina a reforçar suas políticas de desmatamento zero.
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- Colaborar com instituições financeiras e agências governamentais para criar incentivos que promovam as melhores práticas produtivas e ambientais entre os pecuaristas.
“A China desempenha um importante papel na influência das práticas que moldam o setor de carne bovina do Brasil. Adotar as especificações de comércio ambientalmente amigáveis delineadas pela Associação de Carne da China (CMA) pode levar a uma mudança crucial em direção à sustentabilidade e segurança alimentar”, afirma Barreto.