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A ração do seu pet vem de área de desmatamento?

Mais de 40% do gado brasileiro está na Amazônia e a indústria de alimentos para animais de estimação tem o setor de frigoríficos de bovinos como principal fornecedor de matéria-prima. Como essas empresas podem ajudar?

Angélica Queiroz, especial para o Radar Verde

O consumidor consciente já sabe que a cadeia da carne ainda não é transparente no Brasil e que isso pode significar que a carne que come está relacionada ao desmatamento da maior floresta tropical do planeta: a Amazônia. O Radar Verde nasceu para ajudá-lo a cobrar dos supermercados e frigoríficos que rastreiem os animais desde a origem. Mas, estas não são as únicas empresas que merecem atenção. A indústria que produz comidas para animais, por exemplo, é um nicho importante como clientes dos frigoríficos.

“Muitos pais e mães de pet nem imaginam, mas a indústria de petiscos e rações para os animais tem o setor de frigoríficos de bovinos como seu principal fornecedor de matéria prima”, informa Camila Trigueiro, analista de pesquisa do Instituto Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). 

Cada marca tem a própria receita, contudo, de forma geral, a ração dos animais domésticos é obtida a partir de uma mistura processada de vísceras, farinha de carne e ossos, com acréscimo de cereais, vitaminas e aditivos. Para petiscos, muitas fábricas costumam utilizar o vergalho, também conhecido como o órgão reprodutor do boi, esôfago, traquéia, cascos e ossos. “As indústrias frigoríficas fornecem estes ingredientes para as fábricas de ração animal e petiscos com volume expressivo. Por isso, essas empresas se tornam um cliente importante para solicitar responsabilidade com a informação de origem dos animais no abate”, ressalta Camila Trigueiro.

Procurada pelo Radar Verde, uma indústria do setor informou que das 600 toneladas vendidas em um mês, pelo menos 500 vêm de ingredientes de frigoríficos. No entanto, assim como grande parte das empresas do setor pet, os critérios para a compra da matéria prima ainda não estabelecem tópicos de cunho socioambiental bem definidos. A reportagem também entrou em contato com outras empresas, mas nenhuma autorizou a divulgação de seu nome nem informou ter políticas definidas sobre o assunto.

“Basicamente, as fábricas exigem de seu frigorífico fornecedor uma série de controles sanitários como possuir SIF (Serviço de Inspeção Federal), estar apto para exportação e atender a critérios específicos quanto ao excedente de gordura, sebo ou gelo”, explica a especialista do Imazon. No entanto, segundo ela, embora as empresas tenham critérios sobre os seus fornecedores para assuntos de qualidade da matéria prima e aspectos comerciais, a maioria não parece ter exigências quanto à informação da origem ou da eficácia da política socioambiental. “Neste momento, parece que a indústria de petiscos e ração ainda não expressa preocupação com a transparência ou mesmo a exigência quanto à informação de origem dos animais, no que diz respeito aos aspectos socioambientais. No entanto, através de uma ferramenta como o Radar Verde, esse nicho de indústrias de alimentos para pets pode avaliar a conduta socioambiental do frigorífico fornecedor para poder, de alguma forma, obter informações se este realiza uma política socioambiental eficaz”, conclui a pesquisadora.

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), a área de Pet Food é um nicho importante para as exportações brasileiras no mercado pet — em 2021, o setor teve uma participação de 95% nas exportações brasileiras do setor, o que está relacionado ao fato de o Brasil ser um dos maiores produtores de proteína bovina do mundo.

No entanto, como quase metade do gado brasileiro está na Amazônia e o país precisa zerar o desmatamento, essas empresas também podem cooperar com a transparência da cadeia recomendando que a indústria frigorífica que lhe fornece apresente transparência sobre o monitoramento e controle quanto à origem do gado, garantindo que não é oriundo de terras desmatadas ilegalmente. E os pais e mães de pet podem fazer a sua parte solicitando que as indústrias de alimentos para animais de estimação comecem a exigir dos frigoríficos mais controle sobre a sua cadeia de fornecedores.

Foto: depositphotos

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