Área detectada pelo Inpe chega 1.120 km2, ultrapassando, pela terceira vez consecutiva, a marca de 1.000 km2 no mês
O desmatamento na Amazônia foi recorde pelo terceiro ano consecutivo em junho. Dados do Inpe divulgados nesta sexta-feira (8/7) mostram que a área de alertas de desmate no mês chegou a 1.120 km2, a maior marca desde 2016, início da série histórica do sistema Deter-B.
É uma alta de 130% em relação a junho de 2018, último ano do governo Temer. Sob Bolsonaro, pela primeira vez os alertas ultrapassaram 1.000 km2 em junho: foram 1.043 em 2020, 1.061 em 2021 e agora 1.120.
No acumulado do ano até aqui (o Inpe sempre mede o desmatamento de agosto de um ano a julho do ano seguinte), os alertas já chegam a 7.104 km2, perdendo apenas por pequena margem para os recordes do próprio regime Bolsonaro no mesmo período de 11 meses (agosto a junho): 7.557 km2 em 2020 e 7.282 km2 em 2021.
Na série de 2022, que se encerra no fim deste mês, houve recorde de desmatamento em outubro, janeiro, fevereiro, abril e agora em junho.
Os dados do Inpe desmontam o argumento do ministro Joaquim Leite, que afirmou em audiência na Câmara nesta quarta (6/7), quando provavelmente já tinha os números de junho, que estaria ocorrendo queda do desmatamento em razão da operação Guardiões do Bioma Amazônia, lançada em março.
Porto Velho, em Rondônia, foi o município com mais alertas de desmatamento em junho (2.450), seguindo por Lábrea, no Amazonas (2.071), Apuí, também no Amazonas (1.910), São Félix do Xingu, no Pará (1.779), e Altamira, também no Pará (1.481).
A explosão do desmatamento no Sul do Amazonas, em municípios como o de Lábrea, se deve à explosão da grilagem na região, por conta da tentativa do ex-ministro da Infraestrutura e hoje candidato ao governo paulista, Tarcício Freitas, de pavimentar a BR-319 (Manaus-Porto Velho). A estrada corta uma das áreas mais intocadas da floresta amazônica e estudos indicam que seu asfaltamento quadruplicará a devastação.
A área de proteção com maior número de alertas é a APA do Tapajós, no Pará (571 avisos), seguida pela Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre (411), e pela Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará (262)
Alertas mensais de desmatamento precisam necessariamente ser olhados com cautela por uma série de motivos. Primeiro, o sistema Deter não é feito para medir área desmatada, e sim para orientar o trabalho do Ibama (que, como é sabido, não tem ocorrido de forma efetiva durante o regime Bolsonaro devido ao desmonte do órgão promovido pelo governo). O Deter é ágil, mas seus satélites são “míopes”, sendo incapazes de enxergar pequenas áreas desmatadas. O dado oficial de desmatamento é informado pelo sistema Prodes, mais lento, porém acurado, uma vez por ano.
Os dados de alertas até o momento indicam, porém, que a taxa de desmatamento em 2022 deverá ultrapassar novamente os 10.000 km2. Em 2021, pela primeira vez desde o início das medições, em 1988, a Amazônia teve o quarto ano seguido de aumento na devastação. A esta altura, ainda não é possível descartar um quinto. Jair Bolsonaro é o primeiro presidente desde a ditadura militar a ver o desmatamento subir em todos os anos de seu mandato.
“Espanto será se o desmatamento não subir de novo em 2022”, disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Como a tragédia do Vale do Javari deixou explícito para o mundo inteiro. A Amazônia está sob o comando de gente que mata e desmata, com o incentivo de Bolsonaro e seus generais. A destruição faz parte de um projeto de governo implementado com muito afinco, que o próximo Presidente da República terá muito trabalho para reverter”.
As informações são do Observatório do Clima.
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