Escolha o seu Idioma

Pesquisar

notícias

Como funciona a pecuária de maior eficiência em Oriximiná

Na região do Baixo Amazonas, pequenos produtores aplicam técnicas para melhorar a produtividade, buscando equilibrar a criação de animais com a preservação do meio ambiente

Por Amanda Lemos, especial para Radar Verde

A explicação mais genérica para a pecuária de maior eficiência é aquela baseada nas boas práticas agropecuárias. A conduta, que busca equilibrar a criação de animais com a preservação do meio ambiente, vem sendo aplicada por um grupo de produtores em Oriximiná (PA), região do Baixo Amazonas. Roberto Giolo, pesquisador da Embrapa Gado de Corte explica que quanto melhor o manejo, existe a tendência do reflexo ser mais positivo na produtividade. “Isso garante ao produtor, inclusive, passar por eventos mais drásticos que possam ocorrer, como seca ou eventos climáticos extremos”.

Tudo começa com a terra. Junto a um técnico, é necessário fazer uma análise de solo para ver quais os nutrientes estão faltando e qual capim fornecerá um manejo adequado para determinada região. Em Oriximiná o pequeno produtor rural Pedro Arthur Printes, 45, teve o auxílio do consultor agropecuário Denis Tostes para ajudar na restauração de 12 hectares de terra, de um total de 40. Em 2021, começou a fazer análises do solo e aplicou insumos como calcário, fósforo, potássio, nitrogênio e micronutrientes para corrigir sua acidez. Um solo ácido tem menor fertilidade, o que dificulta o crescimento das raízes e acesso das plantas aos nutrientes, gerando menos pasto para os animais.

Outro passo foi usar cercas elétricas para dividir o terreno de Pedro Arthur, explica o consultor agropecuário. Isso permite um pastejo mais adequado e respeita a fisiologia da planta. Dessa forma, a saúde das raízes e a perenidade do pasto melhoram. Consequentemente, o desempenho animal também aumenta, além de ter maior fixação de carbono. Usar arame farpado é uma técnica antiga e não é recomendada, pois pode machucar o animal. Já o liso é menos eficiente porque, apesar de delimitar o espaço de forma eficiente, o gado pode pular a cerca e ser preciso refazê-la. Já o elétrico, o animal “fica mais esperto”, mas sem machucá-lo igual a um farpado. Além disso, é a via mais econômica para se cercar animais.

O próximo passo foi focar no rotacionamento do pasto. Existem várias maneiras de fazer rotação. O número de divisões varia de acordo com o período de descanso da forrageira [planta usada como fonte de alimento para os animais], para que ela possa se restabelecer e chegar a uma altura em que possa acontecer o pastejo. Pedro tem em sua propriedade, principalmente, a espécie Brachiaria, que necessita de aproximadamente 30 dias de descanso.

Vacas da raça Nelore pastando em um piquete na fazenda de Luiz Junior em Oriximiná, Pará

O mais comum é fazer uma área dividida em quatro partes. “O produtor vai rodando os animais de acordo com a disponibilidade de pasto de um certo piquete [área de pastejo delimitada por cerca]”, afirma Giolo. Cada forrageira tem seu tempo de crescimento e a lotação do pasto também ajuda a variar qual o período que o gado vai passar nele. No manejo mais adequado, deve-se deixar a planta chegar até a metade da altura para que mude-os de lugar. Tudo isso é feito de acordo com o olho do pecuarista.

Os produtores rurais consultados pela reportagem investiram na capacitação dos funcionários como, por exemplo, treinar seu capataz e seus campeiros para aplicar práticas de bem-estar animal. “É comum esquecer da parte do bem-estar animal, que é feito justamente pelo campeiro e pelo capataz”, explica o pesquisador Roberto Giolo. “É muito comum tratar os animais de qualquer jeito. Isso acarreta em perda de peso e a qualidade da carne para o abate é pior”. O bem-estar animal trata-se de criar uma condição onde o animal possa expressar todas suas necessidades naturais. Partindo do ponto mais básico, a demanda por alimentação tem que ser atendida, como o fornecimento de alimento e água de boa qualidade. De preferência, não beber água do rio para não causar o assoreamento do solo devido ao pisoteio.

O tratamento deve ser capaz de atender as demandas para o gado expressar o seu comportamento. “Eles gostam de pastejar em grupo, por exemplo”, explica Giolo. Também é essencial ter uma área adequada para vacas e bois, se possível, com sombra. “Isso traz o conforto térmico para o animal, envolve essas demandas naturais dos animais”. O bem-estar também envolve a saúde dos animais. Para evitar ectoparasitas e endoparasitas, deve ser feito um tratamento que siga o calendário de vacinação conforme a região. Além disso, é necessário fazer o controle de verminose com antibióticos e outros remédios. Quanto ao bezerro, deve-se fazer cura do umbigo para não causar podridão e alguma doença que possa vir a ter. Também observa-se o período de aleitamento. A cria de um boi vai até os oito meses de idade até ser separado da mãe, podendo variar dois meses para os mais adiantados e dois meses para os mais tardios.

Já na parte social, o produtor rural tem que atender aos requisitos da lei em relação ao bem-estar do trabalhador. Outra forma é capacitar seu funcionário como, por exemplo, treinar o seu capataz e seus campeiros. “Sei que se meus funcionários não estiverem bem, eles podem tratar mal o gado. Se ele tratar mal o gado, ele tem baixo desempenho. Se tiver baixo desempenho, tenho baixa receita. Se tiver baixa receita, o fluxo de caixa fica negativo”, explica o pecuarista e médico veterinário Luiz Junior, 44.
Após quebrar, não ter financiamento e nem capital de giro [parte do investimento total que fica reservado para o pagamento de custos e despesas ao longo do tempo], Junior vendeu algumas cabeças de gado que tinha. Foi então que começou em 2018 com 1,7 hectares de recuperação de terra. Hoje são 57 hectares, um crescimento de mais de 3.000% em seis anos. A taxa média de cabeças de gado por hectare no Brasil, segundo o último Censo Agropecuário, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é de 0,97. Com 235 cabeças de gado numa área de 57 hectares de terras recuperadas, a taxa média da fazenda de Luiz Junior é de 4,12 cabeças por hectares. Os números variam conforme disposição dos bois nos piquetes, afirma o pecuarista. Junior investiu em cuidar da correção do solo e escolher espécies de pastagens que mais se adequam ao clima da região, como o capim Zuri. Outras foram vacinas reprodutivas e contra doenças infecciosas, além de suplementação vitamínica. A estrutura da fazenda para o bem-estar do animal também foram necessárias para o aumento do lucro líquido, como uma praça de alimentação e áreas com sombra para os bois.

Fotos: Amanda Lemos

LEIA TAMBÉM:

Pesquisar