Cerca de 58% dos brasileiros querem saber de onde vem o bife que consomem. Novo indicador, Radar Verde, vai mostrar em que empresas podemos confiar
Angélica Queiroz
Você já parou para pensar no caminho que a carne que você come diariamente faz até chegar ao seu prato? Dependendo de onde você mora, ela pode viajar centenas ou milhares de quilômetros até chegar à sua cidade. Também é possível que seja de um animal que pastou onde um dia já foi floresta amazônica, já que a pecuária é um dos grandes impulsionadores do desmatamento na região. De acordo com estudos do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), pelo menos 40% de toda a carne que os brasileiros consomem tem origem em fazendas localizadas na Amazônia Legal.
Para compreender o tamanho do problema é preciso saber que os pastos dedicados à pecuária ocupam cerca de 90% da área total desmatada, e mais de 90% do desmatamento total é ilegal, complementam dados do projeto Amazônia 2030. Ou seja, é bem provável que o bife no seu prato tenha alguma relação com a violação de leis ambientais e a destruição da floresta.
A boa notícia é que é possível desvincular uma coisa da outra — e você não precisa parar de comer carne para isso. Mas, algumas coisas precisam mudar. Segundo um estudo divulgado pelo projeto Amazônia 2030, podemos produzir mais carne na Amazônia sem derrubar mais nenhuma árvore, recuperando áreas de pastagens degradadas, por exemplo. Além disso, para que o consumidor brasileiro consiga saber de onde vem a carne que come, é necessário rastrear os bois que vão para o abate, incluindo as cadeias indiretas, ou seja, todas as fazendas pelas quais o animal passa do momento em que nasce até chegar na prateleira do açougue ou supermercado. A tecnologia para fazer isso já existe e é, inclusive, utilizada aqui no Brasil para monitorar a carne que vendemos para mercados mais exigentes, como o europeu. Por que ainda não monitoramos toda a nossa carne? Historicamente, porque o mercado precisa de pressão dos consumidores para mudar.
O Reclame AQUI realizou uma pesquisa com mais de 9,5 mil brasileiros para saber o que eles pensam sobre isso. E os resultados, divulgados nesta quarta-feira (27/4), mostram que estamos caminhando para uma grande mudança onde o envolvimento da marca com o desmatamento importa mais que a própria marca. Mais de 40% dos entrevistados responderam que já deixaram de comprar carne de fabricantes associados ao desmatamento ou violação de leis ambientais e 58% afirmaram que a informação clara sobre a procedência da carne é um fator relevante na hora da decisão da compra.
Os consumidores também responderam quais garantias seriam suficientes para que eles confiassem que a produção da carne que consomem não está associada ao desmatamento e a maioria respondeu que deseja ter acesso a indicadores transparentes sobre as políticas de sustentabilidade dos fabricantes de carne.
A pesquisa mostra ainda que os brasileiros acham que a responsabilidade com a origem da carne deve ser do estabelecimento que a vende: 79% dos entrevistados afirmaram que quem vende a carne direto para eles, ou seja, os supermercados e frigoríficos, deveria ser responsável por verificar se a produção causou ou está relacionada ao desmatamento. Caso a rastreabilidade fosse regra, 73% dos consumidores disseram que deixariam de comprar de empresas que não conseguem garantir a procedência da carne que vendem.
A pesquisa foi encomendada pela iniciativa Radar Verde, um indicador que vai ajudar essas empresas a garantir que a carne que vendem não causou desmatamento, direta ou indiretamente. Idealizado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e O Instituto O Mundo Que Queremos e lançado nesta quarta-feira (27/4), o Radar Verde vai mostrar para os consumidores quais são os frigoríficos e supermercados que demonstram maior controle e transparência sobre sua cadeia da carne, com base em dados que as próprias empresas vão enviar.
Os 113 frigoríficos com unidades ativas na Amazônia e os 70 maiores varejistas do país serão convidados a responder um questionário sobre suas boas práticas. Após analisar o material recebido, o Radar Verde vai gerar um índice que será uma ferramenta para ajudar o consumidor a escolher e diferenciar as empresas sérias daquelas que não adotam ou são coniventes com práticas que destroem o meio ambiente e colocam o presente e o futuro da Amazônia em risco. Todos podemos contribuir para frear o desmatamento e, sem essa culpa, a carne que você come, com certeza, vai ficar muito mais gostosa.
Foto: depositphotos
Este artigo foi, originalmente, publicado no Um Só Planeta em 27 de abril de 2022.