Iniciativa foi apresentada publicamente em evento online nesta quarta-feira (27/4). Resultados de pesquisa do Reclame AQUI mostram que consumidor quer mais transparência
JULIANA TINOCO
O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e O Instituto O Mundo Que Queremos, com financiamento da Iniciativa Internacional de Clima e Florestas da Noruega (NICFI) e do Instituto Clima e Sociedade (iCS), lançaram, oficialmente, nesta quarta-feira (27/4) o Radar Verde, o mais novo indicador público de transparência e controle da cadeia de produção e comercialização de carne bovina no Brasil.
“A ideia é criar um indicador por meio do qual qualquer pessoa consiga entender como estão os supermercados e frigoríficos em relação ao controle da origem da carne”, explicou o diretor do O Mundo Que Queremos, Alexandre Mansur. Existem vários esforços sendo feitos por várias empresas e organizações da cadeia para lidar com isso [a relação entre a pecuária e o desmatamento na Amazônia] e a gente entendeu que estava na hora de criar um local para reunir todas essas informações, de maneira clara”, completou.
Para ele, o Radar Verde é também uma forma de reconhecer o esforço de quem está trabalhando para melhorar os processos e a transparência, comparando o desempenho de cada empresa. “Vamos fazer o levantamento todo ano porque os critérios mudam e as próprias empresas evoluem”, pontuou. Saiba mais sobre como o Radar Verde vai funcionar clicando aqui.
Pecuária X Desmatamento
Quem explicou um pouco mais sobre a relação entre os dois assuntos foi Ritamaura Pereira, diretora executiva do Imazon. Ela destacou que o desmatamento tem aumentado — cerca de 90% da área desmatada na Amazônia Legal é direcionada para a formação de pastos, que abrigam 93 milhões de cabeças de gado em 63 milhões de hectares. “Ou seja, uma pecuária extensiva, de baixa produtividade”, comentou.
Ritamaura também ressaltou que 93% do total desmatado entre 2016 e 2020 se sobrepõem às zonas de compras dos frigoríficos e que grande parte deles não assinaram nenhum acordo com o Ministério Público Federal (MPF), após mais de 13 anos do Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) da carne. Os dados mostrados pela pesquisadora também deixaram clara a importância da região na pecuária nacional. “Entre 2000 e 2020, o rebanho da Amazônia cresceu cerca de 258%, uma média bem maior que no restante do país”, observou. Ela explicou ainda a necessidade de monitorar os fornecedores indiretos, uma parte ainda invisível da cadeia produtiva.
Durante o evento, Paulo Barreto, pesquisador sênior do Imazon, mostrou detalhes da metodologia da pesquisa, que você pode conferir aqui. A análise de cada empresa vai resultar em uma pontuação de 0 a 100 e a pontuação final será divulgada para servir como um guia para o consumidor. Os resultados devem ser publicados no segundo semestre de 2022.
Consumo X Propósito
Um dos principais destaques do lançamento foi a apresentação dos resultados de uma pesquisa, encomendada pelo Radar Verde e realizada pelo Reclame AQUI, sobre o comportamento do consumidor. O estudo constatou que mais da metade dos brasileiros querem saber se a produção da carne está relacionada ao desmatamento. “Se a informação estiver disponível para o consumidor, ele acha que isso é importante”, ressaltou Patrícia Cansi, diretora de operações do Reclame AQUI. “Mas o consumidor entende que esse esforço de conseguir essa informação é uma responsabilidade do varejo, que deveria garantir que produtos sem controle de origem não chegassem ao ponto de venda”, afirmou, informando que 73% dos respondentes deixariam de comprar de uma loja que não conseguisse garantir a procedência da carne que vende.
Patrícia lembrou que o preço do produto pode ser um fator preponderante para a escolha do consumidor. “O consumidor vai tirar do freezer o que cabe no seu bolso”, destacou, lembrando que os resultados da pesquisa deixaram claro que, sem um aumento de preço, a informação disponível será considerada.
O mercado tem seu papel nessa mudança. O CEO da FAMA Investimentos, Fábio Alperowitch, esteve presente no lançamento e destacou a importância de que todos assumam suas parcelas de responsabilidade para combater o desmatamento, incluindo os investidores. “ESG é colocar os stakeholders das empresas dentro dos processo decisórios das companhias”, opinou. “Isso é extremamente importante porque o desmatamento não tem sido combatido pelos varejistas e instituições financeiras que continuam comprando carne de origem controversa e dando créditos para os desmatadores”, criticou, ressaltando a importância do Radar Verde nesse cenário, ao dar ao consumidor a opção de escolher de quem comprar.
Radar Verde X Carne Legal
O procurador da República do Amazonas, Rafael Rocha, também esteve presente e destacou os pontos de conexão entre o Radar Verde e o Programa Carne Legal, estratégia do MPF para regularizar a cadeia produtiva da pecuária, cujo TAC com os frigoríficos é um dos pontos centrais. Ele falou dos desafios da estratégia, entre eles o engajamento do varejo nesse esforço coletivo de regularização da cadeia da pecuária. “Esperamos que a partir desses indicadores os varejistas pressionem os frigoríficos e que os consumidores pressionem o varejo. Vamos trabalhar em sinergia”.
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