Pelo segundo ano, o indicador vai revelar se frigoríficos e supermercados conseguem aplicar políticas ambientais na cadeia produtiva. Prazo para respostas vai até o dia 1 de agosto
Os frigoríficos e varejistas do Brasil localizados na Amazônia Legal já receberam o convite para participar da segunda edição do Radar Verde, único indicador público independente com o objetivo de identificar a origem da carne que essas empresas comercializam. As empresas mapeadas têm até o dia 1 de agosto de 2023 para responder o questionário que vai avaliar o grau de controle que elas têm sobre seus fornecedores e identificar se alguma etapa do ciclo de produção contribuiu para o desmatamento da Amazônia.
O segundo ciclo da pesquisa foi lançado nesta quarta-feira (28/6) em evento online, produzido por especialistas do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do Instituto O Mundo Que Queremos, as duas organizações que coordenam a pesquisa. Na live, disponível no Youtube, a pesquisadora do Imazon Ritaumaria Pereira explicou as principais novidades na metodologia 2023, que teve algumas mudanças, como a identificação do Grau de Exposição ao Risco de Desmatamento, no caso dos frigoríficos, e do Grau de Transparência Pública, tanto para frigoríficos quanto para varejistas.
“Começamos agora uma pesquisa com questionários para todas as empresas e depois a avaliação, dando assistência para elas responderem adequadamente”, explicou Alexandre Mansur, diretor de projetos do O Mundo Que Queremos. Ele ressaltou que as empresas devem enviar documentos que comprovem as práticas que declararem: “80% do peso da nossa nota é a execução da política”, detalhou.
“Quando mais informação pública existir, melhor”
O lançamento do indicador contou com a participação especial da superintendente de Gestão Ambiental da Reitoria da Universidade de São Paulo (USP), Patrícia Iglecias, do ex-presidente do Banco Central e signatário da Convergência pelo Brasil, Gustavo Loyola, e do professor, climatologista e renomado cientista brasileiro, Carlos Nobre.
Patrícia Iglecias destacou a importância de dar visibilidade para as empresas comprometidas com o combate ao desmatamento na Amazônia Legal. “Isso é não só desejável, mas impositivo no momento atual”, afirmou. “Em termos práticos, nos próximos dez anos, a demanda e a produção brasileira de carne devem crescer. Portanto, a implementação de ferramentas de rastreamento da origem é fundamental para alcançar o desmatamento zero. E isso precisa acontecer ainda nesta década”, completou.
É possível conciliar meio ambiente e pecuária, especialmente por meio de investimentos que aumentem a produção e, ao mesmo tempo, diminuam a pressão sobre a Amazônia e outros biomas, lembrou Gustavo Loyola em sua fala. “A criação e divulgação de um indicador é fundamental para orientar os stakeholders em relação ao comprometimento dos frigoríficos e dos varejistas. É importante que esse tipo de avaliação seja feito por uma instituição independente”, observou.
“A gente torce muito para que a pecuária se torne cada vez mais verde, porque hoje ela não é”, provocou Carlos Nobre. O especialista em Amazônia destacou que o consumidor deve ser encarado como peça-chave para a transição para a sustentabilidade na pecuária. “O consumidor precisa exigir o Radar Verde, que aquela carne não venha de área desmatada. Divulguem muito o Radar Verde entre os consumidores”, completou.
2022
Em 2022, o Radar Verde convidou 90 frigoríficos e 69 redes varejistas a comprovar que suas políticas garantem que a carne que compram e vendem não está associada ao desmatamento na Amazônia. Nenhuma delas demonstrou como evita o desmatamento na cadeia. Apenas 5% das empresas aceitaram participar e nenhuma autorizou a divulgação de sua classificação final. O resultado revela o status do setor no Brasil.
Dúvidas sobre o processo podem ser enviadas para a equipe do Radar Verde no email [email protected]
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