Exigir que supermercado e frigoríficos informem a origem dos produtos está entre as saídas
BRUNA DE ALENCAR
Não é de hoje que a produção de carne bovina vem sendo apontada como uma das atividades que mais contribuem para o aquecimento global. Em um dos relatórios mais alarmantes produzidos em 2021, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) deixou claro que o mundo precisará de mudanças profundas, inclusive na forma de produzir alimentos, com atenção especial para a carne bovina.
Durante a COP26, em Glasgow, dezenas de países, incluindo o Brasil, chegaram a assinar um acordo se comprometendo a reduzir as emissões de metano em 30% até 2030. Mas, na pecuária, as emissões de gases poluentes não acontecem apenas por conta do metano expelido pelos bois, que o produzem em um processo de fermentação durante a digestão. A atividade também está relacionada ao desmatamento, que impulsiona as emissões e diminuem a absorção de gás carbônico (CO2), outro dos grandes causadores do efeito estufa. A erosão do solo em áreas desmatadas para fazer pasto é outro fator relevante, já que o solo fértil também absorve mais CO2.
No Brasil, a situação se agrava, porque boa parte do nosso rebanho está na Amazônia, um dos biomas mais importantes para a regulação do clima global e que está ameaçado. Quase metade do gado está lá e esse número tem crescido ano a ano.
O que fazer?
Alguns especialistas apontam que é preciso diminuir o consumo de proteína animal, mas também há saídas para salvar a Amazônia e continuar comendo carne.
Uma delas é restaurar o pasto degradado, alternativa que, segundo análise do Amazônia 2030, pode custar até 72% menos do que abrir novas áreas. O estudo diz que, para isso, é preciso investir em uma pecuária intensiva, usando a tecnologia e os conhecimentos disponíveis para aumentar a produtividade. Outro trabalho do projeto chega a afirmar que não é necessário derrubar mais nenhuma árvore para produzir mais carne na Amazônia. Ainda assim, o que prevalece na região, é uma pecuária extensiva, que utiliza uma grande área e produz pouco. Em média, há 10 bois onde poderia haver 33.
Sem pressão, no entanto, a tendência é que os produtores rurais continuem resistentes a fazer os investimentos necessários para mudar essa realidade. Assim, é importante cobrar que eles façam isso. Isso pode ser feito de algumas formas. Iniciativas que partam do poder público, como legislação mais rígida e fiscalização do desmatamento ilegal são importantes, mas quem compra também tem seu papel. O mercado europeu, por exemplo, já faz isso, o que impede que muitas fazendas brasileiras exportem sua carne para seus países. O problema é que o mercado interno ainda é pouco exigente.
Os consumidores são peça-chave dessa mudança e uma pesquisa, encomendada pelo Radar Verde ao Reclame Aqui, mostrou que eles estão dispostos. Segundo o estudo, 58% dos participantes afirmaram que a informação clara sobre a procedência da carne é um fato relevante na hora da decisão da compra. Além disso, a maioria (79%) afirmou que quem vende a carne bovina (supermercados e frigoríficos) deve ser responsável por verificar se a produção causou ou está relacionada com o desmatamento.
O Radar Verde, que vai trazer mais transparência para a cadeia mostrando os supermercados e frigoríficos que adotam políticas para garantir a origem da carne, é essa ferramenta que faltava para o consumidor fazer a sua parte. As empresas que responderem ao questionário, vão sair na frente.
Foto: Ritamaura Pereira