Área dizimada em todo globo é equivalente ao território da Suíça. Brasil respondeu por 43% do total desmatado, mostra Global Forest Watch
As florestas tropicais continuam a ser dizimadas em todo planeta, apesar dos apelos pelo fim do desmatamento e dos acordos firmados em recentes anos pela manutenção dos estoques globais de florestas. Somente em 2022, o globo perdeu área equivalente à Suíça – 4,1 milhões de hectares – de florestas úmidas, a uma velocidade proporcional a 11 campos de futebol por minuto.
Os dados são do levantamento anual feito pelo Global Forest Watch, divulgado nesta terça-feira (27). “Estamos perdendo rapidamente uma de nossas ferramentas mais eficazes para combater as mudanças climáticas, proteger a biodiversidade e apoiar os meios de subsistência e a saúde de milhões de pessoas”, diz o relatório.
O resultado indica um aumento de 10% na perda de florestas tropicais primárias em 2022, quando comparado com o ano anterior. Como resultado desta devastação, foram lançados na atmosfera 2,7 gigatons (Gt) de CO2, o equivalente às emissões anuais por combustíveis fósseis da Índia.
“No primeiro ano depois que 145 países concordaram em interromper o desmatamento até 2030 com a Declaração de Glasgow, eles ainda estão tendendo na direção errada”, diz o trabalho.
A Declaração de Glasgow foi assinada na Conferência do Clima da ONU em 2021. Nela, os países signatários se comprometeram com uma longa lista de compromissos de restauração das florestas do planeta até 2030, com meta de zerar o desmatamento até 2030. Para que essa meta fosse cumprida, a taxa de queda deveria ser de 10% ao ano, salienta a Global Forest Watch.
“A análise da Global Forest Review mostra que o desmatamento global em 2022 foi de mais de 1 milhão de hectares acima do nível necessário para atingir o desmatamento zero até 2030”, diz a organização.
As maiores perdas florestais continuam ocorrendo em alguns países que abrigam as maiores e mais importantes florestas tropicais do mundo. Em 2022, o Brasil, a República Democrática do Congo e a Bolívia ficaram nas três primeiras posições do ranking global.
Enquanto isso, a Indonésia e a Malásia conseguiram manter as taxas de perda de florestas primárias tropicais perto de níveis mais baixos já alcançados por tais nações.
Brasil na pole position
Mais uma vez, o Brasil se mantém como líder histórico de perda de florestas tropicais no mundo, tendo sido responsável por 43% do total desmatado em 2022. O total perdido chegou a 18 mil km², segundo medições da Global Forest Watch, um aumento de 15% entre 2021 e 2022.
Essa perda resultou na emissão de 1,2 Gt de CO2, ou 2,5 vezes o total emitido pelo setor de combustíveis fósseis no país em um ano. A maior parte da destruição ocorreu na Amazônia, aponta a organização.
“No Brasil, a perda de floresta primária acelerou na Amazônia Ocidental. Os estados do Amazonas e Acre viram em 2022 um dos níveis mais altos de perda de floresta primária já registrados. O Amazonas, lar de mais da metade das florestas intactas do Brasil, praticamente dobrou a perda de floresta primária em apenas três anos”, mostra a GWF.
Segundo o levantamento, a perda não relacionada ao fogo aumentou em 20% entre 2021 e 2022 no país, a maior elevação desde 2005. A organização considera que perda por fogo pode ocorrer não somente por ignição humana, mas também por causas naturais. Já a perda não relacionada ao fogo é sempre por causas humanas.
Mineração e exploração madeireira ilegal dentro de territórios indígenas também estão na lista de responsáveis pelo aumento verificado no Brasil.
No relatório, a organização enfatizou a responsabilidade do governo brasileiro no aumento da destruição florestal. O levantamento refere-se à perda de florestas em 2022, último ano do governo Bolsonaro.
“A perda florestal no Brasil diminuiu drasticamente no início dos anos 2000 sob Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Lula), mas recentemente, aumentos coincidiram com a administração Bolsonaro, com a corrosão das proteções ambientais, evisceração as agências de proteção, tentativas de conceder anistia ao desmatamento ilegal e tentativas de enfraquecer os direitos indígenas.”
Outros países com florestas tropicais
Apesar da posição do Brasil no ranking de maiores desmatadores refletir a porcentagem de florestas tropicais primárias em território brasileiro, em comparação ao resto do globo, o trabalho salienta que outros países com grandes porções de floresta conseguiram alcançar resultados positivos.
Indonésia e Costa Rica, por exemplo, reduziram a perda florestal em 64% e 63% em 2022, respectivamente.
Na Indonésia, a significativa redução é resultado de políticas governamentais, ações corretivas, esforços de monitoramento, prevenção de incêndios, interrupção na concessão de novas licenças para desflorestamento, e a aplicação de um compromisso firmado internamente de não apenas proteger sua vegetação primária, mas também recuperar áreas degradadas, evitando, assim, a disseminação do fogo para poções protegidas.
Por outro lado, Gana e Bolívia foram os países com maiores elevações na perda florestal primária em 2022, com 71% e 59% de aumento no período.
Sozinha, a Bolívia perdeu 400 mil hectares de florestas primárias em 2022, um recorde para o país. Mais uma vez, o país superou a Indonésia no ranking, apesar de ter, em termos comparativos, menos da metade da área de florestas primárias do que o país asiático.
“Sem uma ação urgente para deter o desmatamento, o mundo ultrapassará suas metas climáticas, mais espécies serão extintas e as pessoas enfrentarão consequências devastadoras. No entanto, não é tarde demais para mudar de rumo”, dizem os autores do trabalho.
O Global Forest Watch (GFW) é uma plataforma online independente de monitoramento florestal lançada em 2014 por um consórcio de parceiros liderado pelo World Resources Institute. Os dados anuais de perda de cobertura de árvores e florestas são criados e atualizados pelo laboratório GLAD (Global Land Analysis & Discovery) da Universidade de Maryland, em colaboração com Google, USGS e NASA.
Os dados capturam áreas de perda de cobertura arbórea em todo o território global (exceto na Antártida e outras ilhas árticas) com resolução de aproximadamente 30 × 30 metros.
Esta reportagem foi, originalmente, publicada no ((o))eco, em 27 de junho de 2023.
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